A Fascinante Jornada Espiritual do Mestre Kanhupa

A história do Guru Kanhupa (ou Kṁhapā) é um relato profundo de busca espiritual, desafios místicos e lições sobre humildade. Considerado um dos grandes Mahasiddhas do Vajrayana e, ao mesmo tempo, um proeminente iogue da tradição Shaiva Nātha, sua trajetória está repleta de eventos místicos e ensinamentos que atravessaram gerações. Neste artigo, exploramos os principais pontos de sua história.

Origens e Formação Espiritual

Kanhupa nasceu em Somapuri, na casta dos escribas. No início de sua jornada, tornou-se monge no famoso monastério Somapuri Vihara, construído pelo rei Devapala. No entanto, sua vida tomou um rumo diferente quando foi iniciado pelo Guru Jalandharipa na prática do Hevajra Mandala Sadhana. A partir desse momento, ele se dedicou por doze anos à intensa prática espiritual.

O Caminho do Poder e as Advertências da Dakini

Após anos de disciplina, Kanhupa começou a manifestar poderes extraordinários. Ele teve uma visão do mandala de Hevajra e entrou em êxtase, acreditando ter alcançado o estado supremo. No entanto, uma Dakini apareceu e advertiu: “Isso não é a realização do Estado Supremo”.

Outros eventos testaram sua humildade. Ao perceber que seu pé afundava numa pedra como se fosse lama, ele acreditou ter atingido um nível insuperável de poderes místicos. Mas a Dakini novamente o repreendeu. Quando começou a levitar, afastando-se do solo, seu orgulho cresceu mais uma vez, sendo mais uma vez advertido.

Seu ápice de autoconfiança veio quando ele era seguido por sete guarda-sóis e sete tambores que tocavam sozinhos. Convencido de ter alcançado a perfeição, anunciou a seus discípulos que partiria para Sri Lanka para pregar o Dharma.

A Humilhação no Mar e a Recomendação do Guru

Ao tentar atravessar o oceano andando sobre a água, Kanhupa começou a se encher de orgulho: “Nem mesmo meu Guru faria isso com tanta facilidade”. No instante em que esse pensamento surgiu, ele afundou. Envergonhado, emergiu e viu seu Guru Jalandharipa no céu, que perguntou seu propósito. Ao admitir sua arrogância, Jalandharipa recomendou que ele procurasse um tecelão discípulo seu na cidade de Salaputra para aprender uma lição definitiva.

O Encontro com o Tecelão e as Provações

Kanhupa encontrou o tecelão e, ao ver sua habilidade sobrenatural de tecer sem tocar os fios quebrados, reconheceu nele um verdadeiro mestre. Prostrou-se e aceitou suas instruções.

O tecelão então o levou a um crematório e desafiou-o a comer a carne de um cadáver. Quando Kanhupa hesitou, o tecelão se transformou em um chacal e devorou o corpo. Em seguida, pediu que Kanhupa comesse parte de suas próprias fezes, o que o iogue recusou, temendo o julgamento dos outros. O tecelão então dividiu sua excreção entre os deuses celestiais, os Nagas do submundo e ele próprio.

Mais tarde, o tecelão organizou um banquete para os três mil discípulos de Kanhupa. Com apenas algumas moedas, ele comprou vinho e comida, que milagrosamente se multiplicaram. A festa durou sete dias sem que os suprimentos se esgotassem. Apesar disso, Kanhupa ainda não havia compreendido completamente sua jornada.

O Erro Final e a Maldição da Jovem

Ignorando o conselho do tecelão, Kanhupa partiu e encontrou uma jovem mística sob uma árvore de ameixas negras. Quando ela se recusou a lhe dar frutos, ele usou seus poderes para derrubá-los, mas a moça, com um simples olhar, fez com que voltassem ao lugar. Irritado, ele lançou um mantra contra ela, fazendo-a sangrar por todo o corpo.

O povo, indignado, o acusou de agir contra os princípios budistas. Percebendo seu erro, ele tentou reverter o feitiço, mas esqueceu de se proteger. A jovem lançou um contra-mantra, e Kanhupa foi acometido por uma terrível doença, sangrando dos pés à cabeça.

Para curá-lo, sua seguidora Dakini Mandhe partiu em busca de um remédio no Monte Sri Parvat. No entanto, ao retornar, foi enganada pela mesma jovem, que, disfarçada de velha, fez com que Mandhe jogasse o remédio fora. Sem a cura, Kanhupa percebeu que sua morte era inevitável.

A Última Lição e a Entrada no Vazio Absoluto

Nos sete dias seguintes, ele transmitiu seus últimos ensinamentos e iniciou seus discípulos nos mistérios de Varahi sem cabeça. No último dia, abandonou seu corpo físico e entrou no Vazio Absoluto.

Dakini Mandhe, furiosa com a jovem que amaldiçoou seu mestre, a encontrou escondida em uma árvore e a matou com um mantra.

Lições da Jornada de Kanhupa

A história do Guru Kanhupa traz profundas reflexões sobre a jornada espiritual. Seus principais ensinamentos incluem:

1. A Ilusão do Orgulho – O verdadeiro poder não está nos poderes sobrenaturais, mas na compreensão profunda da realidade.

2. A Importância do Mestre – Mesmo um grande iogue precisa de um guia para não se perder em seu próprio ego.

3. A Humildade como Virtude Suprema – Kanhupa caiu repetidamente por se considerar superior, e sua derrota final foi resultado de sua teimosia em não seguir conselhos.

4. A Influência do Karma – Suas ações, boas ou ruins, trouxeram consequências imediatas e irreversíveis.

A vida de Kanhupa ensina que o caminho espiritual exige mais do que apenas práticas místicas – é preciso uma profunda transformação interna, guiada por humildade e sabedoria.